O Esplendor de Portugal
Abril 24, 2020
António Lobo Antunes é definitivamente um dos meus escritores favoritos, para mim um nome maior da literatura contemporânea e "O Esplendor de Portugal" era o único livro que me faltava ler da sua obra editada. Não irei estender-me numa opinião minuciosa uma vez que para futuro pretendo reler a obra completa e elabora-lo da forma detalhada. Deixo apenas uma breve impressão de um livro que não destoa do resto da obra do António, fenomenal.
Carlos não vê os seus irmãos, Rui (Conhecimento do Inferno, Explicação dos Pássaros, Que Farei Quando tudo Arde?) e Clarisse, há 15 anos e decide que neste Natal, 1995, irá reunir-se à mesa com eles. Este convite de Natal é o carburador destas vidas que assim encontram-se com um passado que não morre. Rui o irmão doente, Clarisse a insatisfeita, numa busca incessante por amor em homens vários, e Carlos que afinal pode mudar, e passado tanto tempo querer voltar a ver os irmãos. Cada parte do livro é narrada sucessivamente por um dos irmãos, sendo estes capítulos intercalados com os de Isilda, a mãe. À medida que os capítulos dos irmãos avançam e mantém-se fixos a 24 de Dezembro de 1995 os capítulos de Isilda surgem a 24 de Julho de 1978 e irão galgar o tempo ao encontro do presente.
É o título mais irónico do António, o "esplendor" é tido sempre às custas do uso e abuso de quem é mais vulnerável, os jogos de poder do país estabelecem-se por uma sede inata de brilho e ascensão que não olha a fins. As vítimas, a existirem, as gerações que herdam este Portugal, fruto do regime e colonialismo. Filhos da mentira.
não acredites na estima e no respeito sobretudo quando se assemelham a estima e a respeito
Claro que muito mais há a falar do livro, que se estende na obra para outros livros do escritor, mas isso fica para um regresso à sua leitura. D' "O Esplendor de Portugal" a reter é essa grandeza que achámos ter, pela vastidão de terra e riqueza, a existência através do mais fraco. Dinheiro. Poder. A erguer-se de novo um esplendor que seja por ideais legítimos. Vida. Amor.
no regresso dos funerais, perguntava a ninguém o que vale a vida aqui expliquem-me o que vale a vida aqui, e julgo que morreu sem o saber, no girassol